segunda-feira, 21 de julho de 2014

Você é sócio da T.B.C.? - Sidney Fernandes

Toda ocupação útil é trabalho. O limite do trabalho é o das forças.
                                                        Allan Kardec, O Livro dos Espíritos

Há pessoas que parecem ter alergia ao trabalho. E procuram todas as desculpas possíveis para justificar a sua indolência.
Certamente fazem parte da T.B.C..

Emmanuel comenta, no livro Pão Nosso, a seguinte expressão de Paulo, da 2a. Epístola aos Coríntios:
Cada um contribua, segundo propôs em seu coração; não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama o que dá com alegria.
Refere-se, naturalmente, não apenas à esmola material, mas também a toda cooperação no bem que possamos prestar.
Qualquer trabalho que venhamos a executar, seja ele espiritual, material ou psicológico, deve revestir-se de alegria. Isto é, deve ser realizado sem má vontade, sem queixas, sem insatisfação ou leviandade.
Conclui dizendo que o Pai ama o filho que contribui com alegria.
Os que agem de outra forma talvez sejam sócios da T.B.C..

Em brilhante artigo intitulado A "patologização" da infância, Sílvia Gusmão destaca a tendência americana de rotular desvios comportamentais de suas crianças. Malcriação, por exemplo, é rotulada de Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor.
Com isso, a indústria farmacêutica está rindo sozinha, tal o aumento do uso abusivo de medicamentos, para curaras anormalidades.
Conclui o artigo perguntando:
— O que explica a "epidemia" de crianças anormais nos Estados Unidos, enquanto na França o percentual de crianças diagnosticadas é inferior a 0,5% ?
— Os Estados Unidos tendem a "patologizar" o que seria natural no comportamento humano. As crianças francesas são geralmente mais bem comportadas que as americanas - diz a estudiosa - , adequando-se aos limites estabelecidos pelos pais.
— Nesse sentido, conclui, as crianças francesas não precisam de medicamentos para controlar seu comportamento, porque os pais franceses estão à frente na educação de seus filhos, enquanto na família americana não.
Resumindo: na França a educação previne doençascomportamentais.

Os desvios de comportamento não podem ser classificados como ato involuntário, sobre os quais não temos controle. Podemos e devemos melhorar a cada dia o nosso modo de ser.
E isso recebe o nome de EDUCAÇÃO. Sem falsas desculpas, sem rotular os educandos de doentes, responsabilizando o indivíduo e quem o educa por seus atos.
Com certeza, esses que apelam para os remédios, desculpando como se fossem doenças os desvios sociais, fazem parte da T.B.C..

Afinal de contas, o que é T.B.C.?
Narra Irmão X, no livro Contos Desta e Doutra Vida, a história de três rapazes - Leandro, Jonas e Samuel -, que aparentavam ser sensatos estudiosos do Espiritismo. Durante cinquenta meses teve encontros semanais com o grupinho, com o qual se encantou. Leandro, Jonas e Samuel pareciam três apóstolos da Grande Causa.
Tanta simpatia os três inspiravam, que Irmão X resolveu apontá-los para o amigo Cantídio, sugerindo que os três jovens fossem aproveitados na seara do bem. Foi assim que Cantídio, certa noite, conseguiu situar os três rapazes num templo espírita, ao qual compareceu também Lismundo, respeitável orientador que vinha testar-lhes a dedicação. Começou falando sobre a magnitude do serviço espírita. Logo após entrou diretamente no assunto que ali o trazia. Jonas, Samuel e Leandro discorreram, brilhantemente, quanto às próprias convicções. Falaram longamente das leituras que haviam efetuado.
Exaltaram os princípios de Allan Kardec, louvaram as páginas de Denis, desfiaram as pesquisas de Crookes e Aksakof e analisaram as conclusões de Bozzano e Geley com notável mestria. Depois de duas horas inteiras de verbo, Lismundo os convidou pacientemente para o trabalho: a construção de uma casa de instrução e consolo... ou talvez a disseminação do livro espírita?... ou talvez um agrupamento destinado à sementeira da luz...
Os ouvintes, contudo, qual se fossem surpreendidos por ducha inesperada, entreolharam-se, transidos de susto. Leandro tinha provações. Samuel acusou problemas familiares, e Jonas afirmou-se sem condições de responsabilidades maiores. O trio mostrou-se irredutível.
Quando os convites reiterados começaram a ser tomados como inconvenientes, Lismundo despediu-se.
Acalmando a decepção de Irmão X, explicou, bondoso: – Não se aflija. Estamos à frente de companheiros filiados à T.B.C. .
Voltaremos em outra ocasião

Intrigado, Irmão X perguntou ao amigo que o esperava:
– T.B.C.? Que vem a ser isso?
Cantídio respondeu, a sorrir:

– T.B.C. representa a sigla da Turma da Boa Conversa, compreende?
Embora agoniado, Irmão X não pôde ocultar o riso franco.

Emmanuel, ao referir-se ao contato do apóstolo Paulo com Atenas, em sua página Novos Atenienses, do livro Pão Nosso, lembra que, enquanto o orador atinha-se a conceitos filosóficos, era aplaudido e reverenciado.
No entanto, quando passou a referir-se à continuação da vida, além das ninharias terrestres, os ouvintes sentiram-se desconfortáveis e foram deixando o recinto, deixando-o quase só.

Nos dias que correm, continua Emmanuel, estamos passando pela mesma situação.


Normalmente aceitamos bem a teoria. No entanto, se nos convidam ao trabalho, às vezes saímos de fininho e deixamos oradores falando sozinhos.
Afinal, a que turma pertencemos?
À Turma do Trabalho ou à Turma da Boa Conversa?

Autor: Sidney Fernandes

O desafio maior

...
No mundo espiritual temos uma visão objetiva de nossas necessidades evolutivas. Pedimos aos gênios tutelares, nossos amigos espirituais, que nos ajudem a planejar uma existência capaz de incinerar nossas mazelas e liquidar nossos débitos cármicos, acumulados ao longo de muitos séculos de indisciplina e comprometimento com o desajuste.
– Quero nascer zarolho e perneta, portador de doenças congênitas, em família complicada; estágio na pobreza, dores e aflições intermináveis…
Embora inspirados em nobres ideais, fossem nossos desejos atendidos e seríamos esmagados por provações acima de nossas forças, paralisando-nos a iniciativa.
Podando espinhos em exagero, nossos mentores ajudam-nos a planejar uma jornada menos tormentosa, que não nos tolha a iniciativa.
Muito mais do que pagar dívidas, é fundamental estejamos empenhados em não contraí-las e a conquistar créditos de trabalho no campo do Bem e do aprimoramento espiritual, adquirindo aquela riqueza que, no dizer de Jesus, as traças não roem, a ferrugem não corrói, nem os ladrões roubam.
O problema é que aqui aportando, visão espiritual prejudicada pela armadura física, deixamos que prevaleçam os interesses humanos.
Sofremos uma inversão de valores.
Se as coisas correm mal, clamamos ao Céu.
Se correm bem, distraímo-nos dos bons propósitos.
Pagamos nossos débitos cármicos com a angústia do sovina.
Contraímos novos débitos com a avidez do perdulário.
Ao final da jornada, o saldo é negativo na contabilidade divina e vamos parar em regiões umbralinas, o purgatório da tradição religiosa, onde estagiam os maus pagadores e os esbanjadores do tempo, de onde nenhum gênio nos tirará até que nos livremos dos lastros maiores de desajustes e perturbações.
Sofremos, choramos, clamamos pela complacência divina e nos compenetramo-nos, uma vez mais, de nossas fraquezas e mazelas, de nossos débitos cármicos, da necessidade da reencarnação…E começa tudo de novo.
Assim será até que nos disponhamos, com todas as forças de nossa alma, a compatibilizar os ideais divinos com os desejos humanos, a partir do empenho por compreender a nós mesmos, habilitando-nos até mesmo a enfrentar esse autêntico desafio que é decifrar a alma feminina.

Richard Simonetti - Tribuna do Espiritismo mar/2014